Casas antigas são maior desafio na eficiência energética

Especialistas explicam que Portugal ainda tem muito por onde progredir em termos de eficiência energética, especialmente nos edifícios residenciais mais antigos, e nem todos concordam que os actuais já se encontrem bem preparados e equipados.

O segmento da Reabilitação Urbana é considerado o mais “desafiante” para a eficiência energética no setor imobiliário português. “Os edifícios inseridos em zona histórica têm condicionalismos adicionais. Por exemplo, nem sempre é possível utilizar sistemas de sombreamento nos vãos, ou instalar painéis solares nas coberturas. Para se alcançar uma elevada eficiência energética nos imóveis é necessário que as intervenções sejam intrusivas no edifício”, refere ao Jornal Económico, João Moura Santos, Diretor do departamento de Gestão de Projetos da promotora Coporgest.

Opinião partilhada por Mariana Morgado Pedroso, arquiteta da Architect Your Home. “Se estivermos a trabalhar num edifício com valor patrimonial, não precisa de ser um palácio basta ser uma casa antiga, onde existem certos elementos que não queremos adulterar, por exemplo, não se vai colocar placas de isolamento térmico numa parede antiga com pinturas. Aqui prevalece o valor patrimonial face à parte térmica”, afirma.

 

Por sua vez, Nuno Filipe Garcia, Diretor da empresa de gestão e fiscalização de obras GesConsult, salienta que na reabilitação urbana a “atribuição da classificação energética tem em conta diversos parâmetros, que são avaliados independentemente de ser uma obra nova ou uma reabilitação”, sublinhando que existem “incentivos fiscais a quem comprovadamente melhora em dois níveis a classificação energética do imóvel após a intervenção de reabilitação”.

Sobre os incentivos fiscais, João Moura Santos frisa que “há promotores imobiliários que com o objetivo de reduzir custos, desenvolvem uma intervenção muito superficial nos seus empreendimentos, ficando pela classificação mínima para a obtenção de benefícios fiscais”, o que faz com que seja “impossível generalizar e afirmar que em Reabilitação Urbana os imóveis cumprem as exigências das classificações energéticas mais elevadas”. Joana Lima, responsável pelo segmento de Reabilitação Urbana da promotora Predibisa, realça que, “atualmente, os promotores sabem que têm que reabilitar com mais qualidade porque há mais concorrência e os clientes são mais informados e exigentes”.

Se a Reabilitação Urbana enfrenta vários desafios, as residências mais modernas em Portugal também, tendo “muito por onde progedir no capitúlo da eficiência energética”, afirma Gilberto Jordan, CEO do André Jordan Group. Miguel Garcia, administrador da empresa de construção Garcia Garcia, partilha desta opinião. “Globalmente, a situação em Portugal tem vindo a melhorar nos últimos anos. Contudo, o caminho a percorrer ainda é longo quando nos comparamos com o centro e norte da Europa”, assumindo não ter dúvidas que “Portugal está a acompanhar as tendências internacionais, e que a aposta em incentivos à sustentabilidade e à promoção da eficiência ganha cada vez maior preponderância”. Nuno Filipe Garcia salienta que “a preocupação com a eficiência energética tem crescido grandemente na última década. A forma como isolamos as nossas casas, os sistemas de climatização que instalamos, a preocupação de poupança e aproveitamento de energia são tudo questões pensadas em qualquer projeto em execução, pelo que, hoje, a grande parte das habitações estão bem equipadas a esse nível”.

Já Mariana Morgado Pedroso tem dois pontos de vista distintos: “a maioria das casas, ou pelo menos aquelas até aos anos 80 e 90, não estão nada bem preparadas. As casas mais recentes sim, até porque existe um regulamento sobre esse tema que é necessário cumprir com um nível de eficiência energética mínimo para se passar no licenciamento da casa. Hoje em dia, a maioria das casas estão protegidas ou são minimamente eficientes a nível energético”, o problema, para a arquiteta, está no facto de Portugal ter “um parque edificado muito antigo, portanto não se pode afirmar que as casas tenham eficiência energética em Portugal”.

João Moura dos Santos, por seu lado, frisa que “que a maioria não dá garantias”, apontando três lacunas: “a ideia generalizada que o clima é ameno em todo o país e durante todo o ano, e que por isso não vale a pena investir em isolamentos térmicos na construção; a qualidade construtiva muito baixa, quer ao nível de materiais e equipamentos, quer ao nível de soluções aplicadas; e a falta de manutenção e intervenções em edifícios envelhecidos que levam à sua degradação”.

Questionados sobre as dificuldades de obter uma certificação energética, Miguel Garcia refere que “fácil não será e ainda bem que assim é”, já que “é necessário cumprir com uma série de critérios rigorosos, que garantem a eficiência energética dos edifícios”.

Gilberto Jordan sublinha que “é mais difícil porque é uma melhoria contínua. Os padrões e a exigência vão subindo. É preciso ter muito conhecimento técnico para analisar os prós e os contras. Funciona como um trapézio, tiramos de um lado, colocamos no outro, é preciso fazer contas e vermos o nível que se quer atingir”, conclui.

 



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